TotalEnergies fecha convênio de R$ 130 milhões com universidades para pesquisa em energia renovável

Aporte vai financiar 24 projetos que envolvem cerca de 235 pesquisadores de diferentes áreas na USP, Unicamp e UFRJ

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Atualização:

RIO- A TotalEnergies firmou convênios com três universidades brasileiras e irá investir R$ 130 milhões em pesquisa e desenvolvimentos (P&D) de projetos integralmente voltados a energia renováveis. O movimento muda de vez o perfil dos esforços de P&D do grupo francês no Brasil, disse ao Estadão/Broadcast o presidente da TotalEnergies no Brasil e diretor-geral de EP, Charles Fernandes.

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Antes mais voltado a óleo e gás, agora a maior parte do investimento da companhia para o desenvolvimento de novas tecnologias no Brasil vai privilegiar a transição energética. Ao todo, o aporte vai financiar 24 projetos que envolvem cerca de 235 pesquisadores de diferentes áreas na Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Segundo Fernandes, esse movimento está em linha com a estratégia global do grupo. No mundo, a TotalEnergies planeja investir US$ 17 bilhões em 2023, sendo US$ 5 bilhões para energias renováveis e moléculas descarbonizadas (biocombustíveis, biogás, H2, e-fuels), montante maior que o dedicado a novos projetos em óleo e gás (US$ 4,5 bilhões). Especificamente na frente de pesquisa e desenvolvimento, que vai receber US$ 1 bilhão, 65% dos recursos já serão direcionados para renováveis.

No Brasil, com os novos convênios anunciados, o total de R$ 400 milhões em compromissos existentes de P&D ganham um novo perfil, com 48% dos recursos voltados para renováveis, 38% para óleo e gás e 14% para sustentabilidade e digitalização.

“Os projetos (de P&D) para upstream continuam a ser desenvolvidos, mas serão ultrapassados em volume pelos relacionados à transição energética. Esse novo desenho dos esforços em P&D no País está muito em linha com a estratégia global da companhia”, resume Fernandes.

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Em termos globais, a TotalEnergies planeja para 2050 um mix de produtos com apenas 25% em óleo e gás e 75% em energias renováveis ou moléculas de baixo carbono Foto: Benoit Tessier/Reuters

Em termos globais, a TotalEnergies planeja para 2050 um mix de produtos com apenas 25% em óleo e gás e 75% em energias renováveis ou moléculas de baixo carbono. Não é mudança pequena para uma empresa hoje 90% apoiada em óleo e gás e apenas 10% em energias descarbonizadas.

“O Brasil é chave nessa transformação e investimento em P&D, mais do que qualquer outra coisa, é o caminho para antecipar esse objetivo”, completa o executivo.

Para o presidente da TotalEnergies no Brasil e diretor-geral de EP, Charles Fernandes, País tem papel-chave na transição energética Foto: Wagner Pinheiro/TotalEnergies

Convênios

Os convênios que somam R$ 134 milhões em investimentos valem para um período entre três e cinco anos, e podem ser renovados para desdobramentos ou etapas adicionais. A USP é a universidade que mais vai receber recursos, informa a diretora de pesquisa e desenvolvimento da TotalEnergies no Brasil, Isabel Waclawek. Serão R$ 80 milhões destinados a 11 projetos da instituição dedicados à inovação em eólica offshore, tecnologias para monitoramento digital de parques eólicos em terra e impacto ambiental de empreendimentos eólicos.

Na UFRJ, onde a TotalEnergies já tem histórico de atividades de pesquisa, serão aportados novos R$ 31 milhões para sete projetos voltados a sistemas híbridos para eólica offshore e à conexão com o sistema interligado nacional de energia elétrica. Fecha a lista a Unicamp, que vai receber R$ 23 milhões para seis projetos de tecnologias digitais para aplicação em energia fotovoltaica e baterias, tais como inteligência artificial, digital twins e block chain.

“Se não fizermos isso agora, em 2023, lá em 2030 não vão existir tecnologias locais para a transição energética que a TotalEnergies e o setor como um todo ambicionam, porque há gargalos de natureza local, necessidade de ‘tropicalizar’ soluções”, resume Fernandes.

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Negócios

O novo foco em renováveis tem relação com o pipeline de projetos de energia renováveis que a TotalEnergies mantém no Brasil em parceria com a Casa dos Ventos. Trata-se de um portfólio com 12 GW de capacidade a ser construído até 2028. A TotalEnergies tem 34% da joint-venture criada com a Casa dos Ventos.

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Desse volume de energia, 1,2 GW já está em operação no Nordeste. A execução dos planos futuros, portanto, vai exigir multiplicar por dez a capacidade atual hoje em funcionamento. Fernandes detalha que, no momento, há 500 MW em construção; 4,5 GW em projetos com desenvolvimento avançado; e o restante, quase 6 GW, para desenvolvimento futuro.

“Esses números deixam claro que o Brasil está tomando uma relevância muito grande no portfólio da TotalEnergies focado em transição energética. E isso vai requerer soluções voltadas à realidade local”, diz Fernandes.

Além dos primeiros movimentos dedicados a tecnologias para eólica offshore no Brasil, tópicos como conexão ao sistema nacional e transmissão para os grandes centros de consumo no Sudeste são de interesse da TotalEnergies que estarão na mira dos pesquisadores à frente dos projetos financiados. Completam essa lista os impactos ambientais das usinas de energias renováveis, tema que deve crescer na agenda futura do País, o monitoramento digital e possíveis sinergias com óleo e gás no ambiente offshore.

Fernandes concorda que o Brasil tem todas as condições para protagonizar a transição energética no mundo, mas afirma que só ter recursos naturais não vai bastar. “Para liderar o processo, será preciso desenvolver e dominar tecnologias. Sem P&D associado a centros locais é pouco provável que o País atinja todo o potencial que tem”, completa o executivo.

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Estabilidade

Diretora de pesquisa e desenvolvimento da TotalEnergies no Brasil, Waclawek lembra que a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) obriga as empresas do setor a investirem 1% de sua receita bruta em P&D afim, o que teve escopo ampliado em 2021 para contemplar projetos mais amplos de transição energética.

Fernandes admite a obrigatoriedade, mas lembra que para o Brasil atrair recursos de vulto que podem ser direcionados a outras partes do mundo, inclusive de P&D, o setor precisa de estabilidade. Na prática, o executivo critica perturbações no arcabouço regulatório e fiscal do setor, a exemplo do imposto temporário sobre exportações.

“Para tudo é preciso haver previsibilidade de regras, inclusive para P&D. Essa é uma questão delicada para setores que investem com capital intensivo olhando para horizontes de tempo muito longos, de décadas. Nesse ponto queremos a monotonia. Porque o arcabouço está ali e é confiável. É preciso saber se qualquer mudança é temporária ou a ponta de um iceberg maior que ameaça o longo prazo”, afirmou.